Ola, meu nome é João Guimarães, sempre tive uma paixão pela arte da fotografia. Em 2010.06.14 resolvi comprar a minha 1ª camera uma Nikon D3000, nao é uma topo de gama, mas dá para iniciar. Contudo sempre que tiver um tempo livre dedicarei-me a esta bela arte da fotografia e virei cá partilhar com voces. Cumprimentos João Guimarães.
sexta-feira, 2 de julho de 2010
"Vê mais longe a gaivota que voa mais alto"
Na superfície do azul brilhante do céu, tentando a custo manter as asas numa dolorosa curva, Fernão Capelo Gaivota levanta o bico a trinta metros de altura. E voa. Voar é muito importante, tão ou mais importante que viver, que comer, pelo menos para Fernão, uma gaivota que pensa e sente o sabor do infinito. E verdade, que é caro pensar diferentemente do resto do bando, passar dias inteiros só voando, só aprendendo a voar, longe do comum dos mortais, estes que se contentam com o que são, na pobreza das limitações. Para Fernão é diferente, evoluir é necessário, a vida é o desconhecido. Afinal uma gaivota que se preza tem de viver o brilho das estrelas, analisar de perto o paraíso, respirar ares mais leves e mais afáveis. Viver é conquistar, não limitar o ilimitável. Sempre haverá o que aprender. Sempre.
«Então isto é o paraíso», pensou, e teve de sorrir de si próprio. Não era lá muito respeitoso analisar o paraíso, no preciso momento em que se preparava para entrar nele.
Durante muito tempo Fernão esqueceu-se do mundo onde vivia, aquele local onde o Bando vivia com os olhos completamente cerrados em relação ao prazer de voar, utilizando as asas como meros meios para atingir o fim de procurar e lutar pela comida. Mas, de vez em quando, e só por um momento, lembrava-se.
Lembrou-se numa manhã em que saíra com o instrutor, enquanto as outras gaivotas descansavam na praia, após uma sessão de voos de asa dobrada.
- Onde estão os outros, Henrique? – perguntou, em silêncio... - Por que somos tão poucos aqui? Lá do sítio de onde venho...
- ... milhares e milhares de gaivotas. Eu sei. – Henrique abanou a cabeça. – A única resposta que encontro, Fernão, é que tu és um pássaro, num milhão. A maior parte de nós percorreu um longo caminho. Fomos de um mundo para outro que era quase igual ao primeiro, sem nos preocuparmos com o destino, vivendo o momento. Fazes alguma ideia de quantas vidas teremos de viver antes de compreendermos que há coisas mais importantes do que comer, lutar ou disputar o poder no Bando? Mil vidas, Fernão, dez mil vidas! E, depois, mais cem vidas até começarmos a aprender que a perfeição existe, e outras cem para constatar que o nosso objectivo na vida é conseguir a perfeição e pô-la em prática. As mesmas regras se aplicam, agora, a nós: escolhemos o nosso mundo através do que aprendemos neste. Se não aprendermos nada, então o próximo mundo será igual a este, com as mesmas limitações e obstáculos a vencer.
- Chiang, este mundo não é o paraíso, pois não?
O Mais Velho sorriu, ao luar.
- Bem, mas que acontece depois? Para onde vamos? O paraíso não existe?
- Não, Fernão, o paraíso não existe. O paraíso não é um lugar, nem um tempo. O paraíso é ser-se perfeito.
- Voas com muita velocidade, não voas?
- Eu... eu gosto da velocidade - respondeu Fernão, surpreendido mas orgulhoso por o Mais Velho ter reparado.
- Vais começar a aproximar-te do paraíso, Fernão, no momento em que alcançares a velocidade perfeita. E isso não é voar a mil e quinhentos quilómetros à hora, nem a um milhão e quinhentos mil, nem voar à velocidade da luz. É que nenhum número é um limite e a perfeição não tem limites. A velocidade perfeita, meu filho, é estar ali.
Sem avisar, Chiang evaporou-se e apareceu junto à água, a uma distância de quinze metros, por um breve instante. Depois, voltou a desaparecer e pairou, por uma fracção de segundos ao lado de Fernão.
- É engraçado - disse.
Fernão ficou atordoado. Esqueceu-se de fazer perguntas acerca do paraíso.
- Como se faz isso? Qual é a sensação? Até onde se pode ir?
- Desde que o desejes, podes ir a qualquer lugar, em qualquer momento – disse-lhe o Mais Velho. – Fui a todos os lugares sempre que quis. - Olhou o mar, pensativo.
- É estranho... As gaivotas que desprezam a perfeição por amor ao movimento não chegam a parte alguma, lentamente. Aqueles que trocam o prazer de voar pela perfeição, vão a qualquer parte, instantaneamente. Lembra-te, Fernão, o paraíso não é um lugar nem um tempo, porque lugar e tempo não significam nada.
- Tu tens a liberdade de ser tu próprio, o teu verdadeiro eu, Aqui e Agora; nada se pode interpor no teu caminho. Essa é a Lei da Grande Gaivota, a Lei que É.
- Queres dizer que posso voar?
- Quero dizer que és livre! O truque consiste em tentar ultrapassar as nossas limitações, com calma e paciência...
Todo o vosso corpo, desde a ponta de uma asa até à ponta de outra asa – costumava dizer Fernão -, não é mais do que o vosso próprio pensamento, uma forma que podem ver. Quebrem as correntes do pensamento e conseguirão quebrar as correntes do corpo.
(“Fernão Capelo Gaivota” – Richard Bach)
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